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Cadeias globais de suprimentos se preparam para recuperação dolorosa

Mark John
Mark John
European Economics Editor, Reuters

Crescem os sinais de que uma crise global nas cadeias de suprimentos que embaralhou as previsões de inflação dos bancos centrais, atrasou recuperações econômicas e comprimiu as margens corporativas pode finalmente começar a se resolver ao fim deste ano.

Mas os canais de comércio têm ficado tão entupidos que pode demorar até pelo menos o próximo ano antes que as indústrias mais atingidas vejam os negócios remotamente de volta ao usual –mesmo supondo que a nova fase da pandemia não gerará novos estragos.

“Esperamos que, na segunda metade deste ano, comecemos a ver um refluxo gradual da escassez, dos gargalos, apenas do deslocamento geral que existe na cadeia de suprimentos agora”, disse o presidente-executivo do grupo de alimentos Kellogg, Steve Cahillane, à Reuters.

Mas ele acrescentou: “Eu não acho que até 2024 haverá algum tipo de retorno a um ambiente normal, porque ele foi tão dramaticamente deslocado”.

Mensagens Mistas

Agora, com a variante mais branda Ômicron permitindo que autoridades flexibilizem suas restrições, há sinais preliminares de que os problemas de abastecimento podem estar diminuindo.

Na semana passada, a pesquisa do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) mostrou sinais de melhorias na mão de obra norte-americana e no desempenho de entrega dos fornecedores pelo terceiro mês seguido, e depoimentos de gerentes de compras na Europa também sugerem alívio das pressões.

Embora isso tenha aumentado as esperanças dos banqueiros centrais de uma redução mais tangível das pressões inflacionárias até o fim do ano, eles também sabem que as mensagens da economia real permanecem mistas.

Soren Skou, chefe da gigante de transporte marítimo Maersk, disse nesta semana estar trabalhando com a suposição de que mais pessoas voltarão a trabalhar nos portos, mais navios recém-construídos entrarão em operação e os consumidores começarão a favorecer os serviços novamente.

“Em algum momento deste ano, veremos uma situação mais normal”, previu Skou.

A Sea-Intelligence, que analisa cadeias de suprimentos, disse que o atual impasse é sem precedentes, mas que a experiência passada sugere que as redes portuárias e do interior levarão de 8 a 9 meses para se recuperarem.

“Dito isso, o mercado não está mostrando nenhuma indicação de que iniciamos o caminho para resolução”, disse o presidente-executivo da Sea-Intelligence, Alan Murphy, em uma análise das tendências atuais ante dados anteriores com relação a média de atrasos de navios causados ​​por interrupções.

Não Será Como Antes Da Pandemia

Qualquer resolução dependerá de não haver mais impactos nas gravemente prejudicadas cadeias de suprimentos.

Para o consumidor, levará algum tempo até que possa ser possível observar qualquer redução tangível das pressões na cadeia de suprimentos –e eles não devem necessariamente esperar uma volta de preços ou disponibilidade aos patamares pré-pandemia.

Executivos de montadoras e de outros fabricantes dizem esperar que os preços de uma série de matérias-primas subam durante o ano, e estão confiantes de que podem aumentar os preços de seus produtos para cobrir parte ou a totalidade dessa alta de custos.

A fabricante de motocicletas norte-americana Harley-Davidson disse estar se contentando com um estoque muito mais limitado, implementando um sistema de reservas para os clientes encomendarem suas motos.

Jens Bjorn Andersen, chefe-executivo do grupo de transporte e logística DSV, disse que o deslocamento tem sido tão completo que, aconteça o que acontecer, o setor não terá o mesmo aspecto de antes da Covid-19.

“Eu nunca uso a palavra normalização”, ele acrescentou.

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