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Como a pandemia está aumentando a resiliência operacional nas negociações comerciais

Stuart Bunyan
Stuart Bunyan
Director, Real-Time Architecture, Refinitiv

Hoje em dia, resiliência operacional já é vista como um requisito do compliance. No entanto, se implementada corretamente, também criará novas oportunidades para as equipes se tornarem mais ágeis e agregarem valor aos negócios.


  1. Resiliência operacional é a capacidade das empresas, organizações de infraestrutura do mercado financeiro, e do setor como um todo, de se prevenir, se adaptar, reagir e se recuperar, além de aprender com as disrupções operacionais.
  2. Os lockdowns e políticas de distanciamento social impostos pela Covid-19 a partir de março deste ano criaram circunstâncias sem precedentes para os times de negociação, que foram obrigados a testar sua resiliência operacional.
  3. Porém, essa nova realidade também abriu oportunidades para aquelas empresas suficientemente ágeis e capazes de responder à situação.

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O termo “resiliência operacional” tem sido usado no setor de serviços financeiros há algum tempo, e o conceito já foi estimulado pelo Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia, bem como pelas agências reguladoras dos EUA, UE e Reino Unido. Mas, com a pandemia de coronavírus, as equipes de trading precisaram adotá-lo à força, enquanto trabalhavam para responder às extraordinárias circunstâncias de 2020.

Um novo white paper da Refinitiv, Why Operational Resilience is Now Essential for the Trading Business”, explora as maneiras pelas quais os times de trading em empresas de serviços financeiros consideram a resiliência operacional crucial para os negócios, além de uma potencial exigência para o compliance com as novas regulações.

Neste post –o primeiro de uma série de três—, abordamos como o conceito de resiliência operacional está sendo alterado drasticamente pelos acontecimentos recentes.

O que é resiliência operacional?

O Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia define resiliência operacional como: “A capacidade de um banco de realizar operações importantes em meio a disrupções. Essa habilidade permite que um banco identifique e se proteja de ameaças e falhas em potencial, responda e se adapte, além de se recuperar e aprender com eventos perturbadores – a fim de minimizar o impacto na entrega de operações críticas em meio a disrupções.

“Ao considerar sua resiliência operacional, um banco deve levar em consideração seu apetite geral de risco, capacidade de risco e perfil de risco”, acrescenta o comitê.

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A Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido define resiliência operacional de forma mais ampla, como: “A capacidade das empresas, das organizações de infraestrutura do mercado financeiro, e do setor financeiro como um todo, de se prevenir, se adaptar, reagir e se recuperar, além de aprender com as disrupções operacionais.

Quando o termo “resiliência operacional” começou a ser usado, cerca de dois ou três anos atrás, ele era bastante associado ao risco cibernético. Isso ocorreu, em parte, porque os ataques de hackers e violações de dados que muitas instituições financeiras enfrentaram fizeram com que a segurança cibernética subisse para o topo da lista de risco para empresas e reguladores.

Contudo, a resiliência operacional sempre foi mais do que apenas ser capaz de se recuperar após um desses ataques. A pandemia de Covid-19 deixou evidente, tanto para empresas quanto para as agências reguladoras, o quão importante é essa habilidade em circunstâncias inesperadas. Isso pôde ser comprovado principalmente pelas equipes de trading, que atravessaram uma tempestade perfeita de desafios de resiliência operacional com o início da pandemia.

Por que a resiliência operacional é importante para as equipes de negociação?

A Covid-19 transformou a forma que os traders enxergam a resiliência operacional.

Em primeiro lugar, os mercados globais registraram volumes recordes de negociação e volatilidade nos primeiros meses da crise, ainda no primeiro trimestre de 2020.

Em uma segunda-feira no início de março, por exemplo, o volume de negociação de ações europeias aumentou em mais de três vezes em relação à sua média diária de 90 dias. Isso porque os preços desses ativos sofreram a maior queda em um dia desde a crise financeira de 2008, e as cotações do petróleo caíram 25%.

Em meio a esses movimentos extremos de mercado, lockdowns em todo o mundo forçaram os traders a trabalhar de casa, de outros escritórios ou mesmo em locais incluídos em planos de continuidade de negócios, criando uma intensa onda de disrupção.

Como muitas organizações não haviam se preparado para esse tipo de evento, apenas 16% das empresas sentiram que seus planos de continuidade de negócios (PCNs) funcionaram bem durante a crise –embora nenhum “apagão” em grande escala tenha realmente acontecido.

Enquanto isso, as equipes de negociação estavam utilizando quantidades recordes de dados e precisavam fazer análises rapidamente e ainda se manter em compliance com as regulações. A forma como os traders usavam seus dados mudou, com um aumento de 20% no acesso à internet, e de 50% no acesso móvel a dados da Refinitiv. O volume de dados passando pelo feed da Refinitiv subiu para mais que o dobro do tráfego de tempos normais.

Ou seja, a necessidade de se adaptar a essas circunstâncias extraordinárias fez com que as equipes de negociação passassem a reconhecer a importância da resiliência operacional. Embora essa habilidade provavelmente venha a ser mais uma das exigências regulatórias em em um futuro próximo, ela também faz sentido para os negócios. Isso porque a área de negociação precisa ser capaz de se adaptar e seguir adiante com as transações, não importa o que aconteça, tanto para o bem de suas empresas quanto de seus clientes.

A incapacidade de levar adiante pedidos de clientes em condições de mercado desafiadoras prejudica não apenas a reputação da instituição, mas afeta os clientes, outras empresas e o sistema financeiro como um todo.

Novas oportunidades

Diante da Covid-19, ficou evidente que a resiliência operacional não é apenas um conceito defensivo. Afinal, as circunstâncias criadas pela pandemia também geraram oportunidades para as empresas.

Os mercados de capitais internacionais, por exemplo, testemunharam os seis meses mais fortes de todos os tempos na primeira metade de 2020, arrecadando US$5,5 trilhões. Isso significa um aumento de 35% em relação ao ano anterior e o valor mais alto desde o início dos registros, em 1980. Além disso, o número de ofertas excedeu 130.000 pela primeira vez. Também foram batidos recordes para emissões de grau de investimento nos EUA e de alto rendimento global.

Outras portas também se abriram. A gestão de investimentos experimentou uma mudança na preferência de estratégias passivas para ativas, enquanto as bolsas e os traders viram os lucros disparar graças aos altos volumes de negociação e à volatilidade. O problema é que para aproveitar todas essas oportunidades, as equipes de negociação precisavam ser muito ágeis.

As instituições financeiras e seus times teriam que ser capazes de se adaptar rapidamente às circunstâncias desafiadoras. Eles precisavam acessar dados de mercado, se envolver com análises que os ajudassem a entender melhor o que estava acontecendo ao seu redor e negociar seguindo as regras de compliance.

Equipes com resiliência operacional, que foram ágeis o suficiente para fazer todas essas coisas enquanto a crise sanitária ia se desenrolando, estiveram mais bem posicionadas para negociar com sucesso em nome de sua empresa e de seus clientes.

Portanto, embora a resiliência operacional possa em breve ser um requisito regulatório para algumas empresas, está claro que uma abordagem robusta também pode gerar um valor comercial significativo para as equipes de negociação.

É impossível prever qual será a próxima crise, ou mesmo os novos desdobramentos da atual pandemia. No entanto, as equipes de negociação podem estar preparadas (e até mesmo prosperar) se alcançarem a resiliência operacional.

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