Ir para conteúdo

Inflação em disparada na América Latina prescreve mais “remédio monetário” à frente

Anthony Esposito
Anthony Esposito
Repórter, Reuters

Bancos centrais do Brasil ao Chile podem ser forçados a aplicar mais “remédio” monetário do que o esperado, à medida que a inflação na região continua a acelerar, desafiando altas acentuadas das taxas de juros já promovidas e alimentando o descontentamento sobre o aumento dos preços de alimentos e combustíveis.

No Brasil, o IPCA subiu bem acima das previsões em março, indo à maior taxa para o mês em 28 anos. No Chile, a inflação bateu o maior patamar desde 1993. O México registrou um pico anual em 21 anos, e o Peru, uma máxima em um quarto de século.

Isso, dizem analistas, levará os bancos centrais a aumentar os juros mais rapidamente do que o planejado, reflexo do quanto se tornou mais difícil reduzir a inflação, enquanto os custos crescentes das commodities e a guerra na Ucrânia elevam os preços globalmente.

“A realidade da inflação está pedindo mais remédio monetário”, disse Alfredo Coutino, diretor para a América Latina da Moody’s Analytics.

Formuladores de política monetária sinalizaram elevações mais lentas dos juros à frente, após altas acentuadas no início do ano. O Chile subiu sua taxa de referência em 650 pontos-base desde meados do ano passado. O Brasil elevou sua taxa básica para 11,75%, ante a mínima recorde de 2% vista até março do ano passado.

Até agora, esses ajustes não conseguiram conter os preços, com a inflação anual também em disparada, impulsionada pelos preços de mantimentos e pelos custos de combustíveis, uma mistura inflamável que provocou protestos furiosos no Peru e força líderes políticos a tomar medidas evasivas.

Descubra novas oportunidades com dados e conteúdo exclusivos oferecidos pelo Eikon. 

Descubra novas oportunidades com dados e conteúdo exclusivos oferecidos pelo Eikon. 

Ciclo de Aperto Monetário

William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes na Capital Economics, disse que as taxas de inflação acima do esperado têm apoiado a visão de que os bancos centrais regionais precisarão aumentar as taxas de juros mais do que o previsto.

“Isso reforça nossa visão de que o ciclo de aperto monetário vai além da trajetória implícita nas últimas orientações de bancos centrais e no consenso de analistas”, escreveu em nota.

Após os dados do IPCA de março, as taxas dos contratos futuros de juros negociados na B3: dispararam ao longo da curva, e economistas sinalizaram que a alta amplamente esperada para o próximo mês pode não ser a última do ciclo, como o Banco Central havia sugerido anteriormente.

Na Argentina, onde a inflação anual está acima de 50% e deve continuar a acelerar, o banco central agora deve elevar a taxa de juros novamente em abril, disse uma fonte na instituição à Reuters, após três altas consecutivas neste ano.

“Deve haver um novo ajuste para cima neste mês”, disse a fonte com conhecimento direto das discussões, acrescentando que o aumento provavelmente seria limitado a 150 pontos-base para evitar um efeito negativo no crescimento econômico.

Descubra novas oportunidades com dados e conteúdo exclusivos oferecidos pelo Eikon. 

“A inflação está de volta”

A dor de cabeça para os formuladores de política monetária na América Latina, uma grande produtora global de commodities de cobre a milho, chega enquanto problemas globais de oferta pressionam os preços em todo o mundo.

Quase 60% das economias desenvolvidas têm agora uma inflação anual acima de 5%, a maior parcela desde o fim da década de 1980, enquanto a taxa é superior a 7% em mais da metade do mundo em desenvolvimento.

Isso está abalando governos do Sri Lanka ao Peru. O país latino-americano tem sido dominado por protestos furiosos nas últimas semanas contra o aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos. Em resposta, o banco central elevou a taxa de juros para o maior nível desde 2009.

No México, segunda maior economia da América Latina, os preços ao consumidor saltaram em março a um ritmo não visto desde 2001. Economistas agora esperam mais altas nas taxas de juros.

Ainda assim, a batalha para acalmar os preços pode ser longa.

O chefe do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Agustín Carstens, alertou nesta semana que o mundo enfrenta uma nova era de inflação e taxas de juros mais altas, à medida que a deterioração dos laços entre Ocidente, Rússia e China e os efeitos da Covid-19 ditam uma reversão ao processo de globalização.

“A inflação está de volta”, disse o BIS.

Descubra novas oportunidades com dados e conteúdo exclusivos oferecidos pelo Eikon.