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Panorama da governança corporativa no continente americano

Em um relatório recém-lançado pela Refinitiv, especialistas em questões ESG e análise de dados abordam, entre outros tópicos, as transformações no cenário da governança corporativa em diversos setores econômicos e sub-regiões das Américas. Confira neste post as principais conclusões sobre o tema. 


  1. No continente americano, o crescimento das pontuações de governança corporativa foi de 19% entre 2014 a 2018.
  2. Nas Américas, entre os setores da economia que apresentam as melhores pontuações de governança estão os de varejo; alimentos e bebidas; serviços e equipamentos industriais; e serviços e equipamentos de saúde
  3. Na região das Américas, o Brasil lidera em notificações de políticas de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), com um índice atual de 76%.

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Enquanto o mundo se esforça para pôr um fim à pandemia de Covid-19, empresas, de todos os setores, têm reavaliado os alicerces que dão sustentação aos seus negócios. E, cada vez mais, concluem: boas estratégias de ESG, sobretudo governança corporativa, são vitais para aumentar o grau de resiliência das organizações em tempos excepcionais, como este que atravessamos.

Hoje em dia, acredita-se que a governança seja talvez o mais importante dos três pilares ESG. Afinal, sem sua influência, veremos pouca direção, gestão ou foco para as práticas sociais ou mesmo ambientais.

Em nosso recém-publicado relatório, Corporate Governance: the Shifting Landscape in 2020 and Beyond –View in the Americas (ainda sem tradução para o português), os autores – Andreas Hoepner, Financial Data Scientist da University College Dublin; Gabija Zdanceviciute, Financial Data Specialist do Sociovestix Labs; e Elena Philipova, Global Head of ESG Proposition da Refinitiv— investigam o desempenho da governança em diversos setores econômicos e sub-regiões nas Américas.

O estudo se baseou em dados ESG da Refinitiv de 3.611 companhias em todo o mundo, 1.137 das quais com sede nas Américas.

Em meio à atual crise sanitária global, e já pensando em encontrar respostas para um mundo pós-Covid-19, a nossa ideia inicial era explorar as tendências de governança para o continente americano e avaliar o impacto disso sobre o desempenho ambiental e social das oganizações analisadas. Além disso, queríamos descobrir se realmente havia uma relação entre pontuações mais altas de governança e uma maior resiliência a crises e melhor desempenho financeiro.

Crescimento das pontuações nas Américas

O relatório nos mostrou que nos últimos cinco anos as pontuações de governança –que consideram as áreas de gestão, acionistas e estratégia de responsabilidade social corporativa (RSC)—aumentarem 13% de forma global, com Europa e as Américas na liderança.

Já no continente americano, foco deste trabalho, o crescimento foi de 9,4 pontos (uma elevação de 19%) de 2014 a 2018. E entre os países da região, os Estados Unidos apresentaram o maior salto em suas pontuações: 25%, ou quase quatro vezes mais do que Brasil e Canadá.

Antes de prosseguirmos, no entanto, é preciso ressaltar a conexão cada vez maior da governança com os outros pilares da sigla ESG. Afinal, esse não é um conceito que existe isoladamente. É importante considerar como ele interage e influencia os pilares ambiental e social.

Depois de analisar os dados em todos os três pilares, identificamos uma correlação linear positiva entre a pontuação de governança de uma empresa e sua pontuação ambiental. O mesmo vale para a relação entre governança e o social, que apresenta correlação linear positiva entre as pontuações.

Portanto, não há dúvida de que a boa governança leva a uma melhor gestão dos outros dois pilares. E, ainda mais interessante, especialmente em tempos de crise, é o fato de que a resiliência corporativa depende de fortes pontuações de sustentabilidade em E, S e G. Como se vê, essas correlações enfatizam a importância de se fomentar um bom ecossistema corporativo.

Comportamento de cada setor da economia

Nas Américas, houve um aumento nas pontuações do pilar de governança em todos os principais setores econômicos, com o financeiro, de tecnologia e de serviços de consumo cíclicos mostrando um maior percentual de crescimento.

Entre os mais bem colocados no ranking geral, estão:

  1. Varejo
  2. Aimentos e bebidas
  3. Serviços e equipamentos industriais
  4. Serviços e equipamentos de saúde

Já no que diz respeito a pontuações de estratégias de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), houve um crescimento médio global de 26%, ou seja, em todo o universo de empresas analisadas pela pesquisa.

Do ponto de vista regional, as oscilações mais impressionantes ocorreram na Ásia e na Europa, com o continente europeu em posição de líder mundial absoluto. Nas Américas, a elevação média foi de 6,5 pontos (de 2014 a 2018).

Apenas 55% de todas as empresas do continente americano têm uma política de RSC, percentual consideravelmente abaixo da média global, de 73%. Entretanto, na região, o Brasil lidera com uma taxa de notificação de 76% (aumento de 70% nos últimos cinco anos). Mais ao norte, o Canadá e os EUA ainda têm muito a fazer para alcançá-lo, com apenas 47% e 53%, respectivamente.

No geral, esse aumento pode ser atribuído a uma pressão crescente para que as companhias relatem práticas de RSC e mostrem como seus negócios estão beneficiando a sociedade. Os investidores institucionais também estão comprovadamente mais preocupados com o destino de seus investimentos e como o seu dinheiro vem sendo usado, especialmente em meio à pandemia.

Aliás, de agora em diante os investidores vão acompanhar cada vez mais se a empresa cumpre ou não com suas obrigações para com funcionários e clientes. Isso evidencia a necessidade de uma análise robusta, divulgação transparente e rastreamento preciso, o que irá gerar confiança e segurança para empresas que possuem uma governança sólida (e, claro, riscos significativos de reputação para aquelas que não têm).

Principais conclusões

Diante do que foi exposto, a questão fundamental é: como as empresas devem planejar e abordar a governança na era pós-Covid-19?

As recomendações a seguir e exemplos do setor mostram como as organizações podem colocar a governança em primeiro lugar para colher benefícios de longo prazo.

  1. Supervisão é essencial

Um programa robusto de gestão de risco social requer que os líderes organizacionais estabeleçam e supervisionem estruturas fortes de governança. Afinal, sem supervisão, as políticas sociais não valem o peso do papel em que são impressas, o que torna essencial controlar esses processos e medir como eles se traduzem em desempenho social e ambiental.

  1. Os pilares social e ambiental são dependentes de cada setor, mas a governança está acima disso

Em qualquer empresa, o peso dos pilares ambiental e social dependerá, de alguma forma, de suas atribuições. Empresas de mineração, por exemplo, estarão mais centradas no ambiental do que no social. Por outro lado, uma corporação do setor financeiro com poucos ativos pesaria mais suas políticas em relação ao pilar social. A governança, no entanto, é um fator que passa além do setor, pois tem igual importância independentemente da área de atuação. Nossa metodologia de pontuação ESG é baseada neste pensamento. Como a importância dos fatores ESG difere entre os setores, mapeamos a materialidade das métricas para cada setor em uma escala de 1 a 10.

  1. Desempenho de governança não pode ser avaliado de forma isolada

Quando se trata de avaliação, é essencial observar que a governança muitas vezes está sujeita a crises regionais. Por esse motivo, é necessário comparar o desempenho de uma empresa com seus pares domésticos e globais separadamente, bem como considerar os resultados de três a cinco anos para avaliar a sua trajetória. As soluções ESG da Refinitiv permitem que você compare facilmente o desempenho ESG da empresa entre seus pares, setores e portfólios.

  1. Relações com funcionarios e práticas de trabalho se tornarão centrais no pós-pandemia

Funcionários maltratados são funcionários infelizes, e levam a greves, multas, rotatividade da força de trabalho e baixa produtividade –todos fatores de risco que têm ramificações de longo prazo no desempenho de uma empresa. Os investidores, portanto, observam cada vez mais como as empresas tratam seus funcionários antes de incluir uma delas em seus portfólios. Benefícios como licença remunerada por doença, telemedicina, programas de saúde e bem-estar devem ser componentes-chave no mundo pós-Covid-19. O gerenciamento da cadeia de suprimentos também é uma consideração importante, especialmente após as linhas de transporte global terem sido prejudicadas (ou interrompidas) durante a pandemia. As empresas com cadeias de suprimentos locais foram menos afetadas por esses problemas e, assim, tornaram-se mais atraentes aos olhos dos investidores. Da mesma forma, maus-tratos diretos ou indiretos a funcionários devido à falta de controles de gerenciamento de qualidade da cadeia de suprimentos também podem afetar a percepção pública. Organizações que possuem uma governança forte e implementam esses controles, garantindo que seus funcionários sejam bem tratados, serão mais bem avaliadas no mercado.

Para obter mais insights sobre as mudanças no panorama da governança corporativa por região, faça o download dos relatórios de 2020 sobre Américas, EMEA e Ásia-Pacífico

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