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Por que os investidores se voltam para as commodities quando a inflação sobe?

Alessandro Sanos, CAIA
Alessandro Sanos, CAIA
Global Director, Commodities, Refinitiv

Diante da subida da inflação, as commodities tornam-se alternativa de investimento para quem busca diversificar a carteira e se proteger do risco inflacionário.


  1. Após o primeiro período de inflação sustentada em décadas, os investidores têm buscado uma maior exposição às commodities, atribuindo a elas o papel de hedge contra a inflação.
  2. Estudos demonstram que em épocas de baixos rendimentos de ações e títulos, aumentar a proporção de commodities dos portfólios ajuda a gerar melhores retornos.
  3. Neste post, analisamos os benefícios de uma maior exposição a futuros de commodities, fundos negociados em bolsa (ETFs, na sigla em inglês) e índices de commodities.

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A turbulência e incerteza dos mercados financeiros atingiram níveis críticos. E os motivos para isso não poderiam ser mais justificáveis: a guerra está de volta à Europa; as cadeias de suprimentos ainda não se recuperaram totalmente da pandemia; a política monetária global segue estampado as manchetes; e, após décadas de baixas históricas, a inflação continua em disparada.

Doze meses de variações percentuais do Índice de Preços ao Consumidor nos países do G20

Devido ao fraco desempenho dos últimos anos, os participantes do mercado nem sempre incluem commodities em suas alocações estratégicas de ativos. Do ponto de vista do investidor, o desempenho relativo das commodities é baixo em comparação a outras classes de ativos, como ações e S&P500.

Comparando o índice Refinitiv/CC CRB Excess Return com o S&P500, vemos que as commodities vêm caindo desde 2008 em comparação com as ações.

Desempenho relativo do índice Refinitiv/CC CRB Excess Return versus o S&P500. Data de início: 1º de janeiro de 1994. Fonte: Refinitiv Eikon

Entretanto, as altas taxas de inflação dos últimos tempos colocaram as commodities novamente no centro das atenções. Isso porque os investidores as encaram como um investimento alternativo que ajuda a diversificar a carteira e oferecer proteção contra o risco inflacionário, criando assim maior potencial de retorno adicional.

Estudos recentes mostram que quando os rendimentos das ações e títulos estão mais baixos, aumentar a alocação de commodities gera maiores retornos, além de ajudar a blindar o portfólio contra a inflação.

Na verdade, este último ponto não é nenhuma surpresa. Se olharmos para os componentes dos índices de preços ao consumidor (IPCs), vemos que a maior parte do peso inflacionário é proveniente de ativos reais. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 70% da cesta de inflação é baseada nesses ativos. Faz sentido, portanto, recalibrar as carteiras e intensificar a alocação de commodities.

Saiba mais sobre o Refinitiv/CoreCommodity CRBB® Total Return Index

Como elevar a exposição a commodities?

Como as commodities têm uma dimensão física, ser proprietário direto de um navio-petroleiro ou um de um rebanho de gado, por exemplo, é algo totalmente impraticável. Assim, a maioria dos investidores tende a buscar uma exposição longa a commodities por meio de ações relacionadas a commodities, derivativos, ETFs, índices ou mesmo de formas indiretas, como financiamento comercial.

As ações de empresas que produzem, transformam e comercializam commodities são provavelmente a opção menos atraente, pois embutem um risco idiossincrático. Explico: a agitação trabalhista no Chile, para dar um exemplo, elevaria o preço do cobre, mas afetaria negativamente o preço das ações das empresas de mineração. Esse tipo de ação também exporia o portfólio a uma variedade de riscos relacionados às empresas em questão, como risco de sanção, potencial escravidão e trabalho forçado na cadeia de suprimentos.

Já os derivativos parecem ser a melhor escolha para investidores institucionais interessados ​​em obter maior exposição a commodities. Eles se beneficiariam, por exemplo, de uma alocação tática de curto prazo em futuros de commodities individuais para alavancar um desequilíbrio temporário de oferta e demanda.

Mas, para uma alocação de ativos mais estratégica e de longo prazo, a melhor pedida seriam ETFs e índices de commodities, que propiciam uma exposição ampla e diversificada.

Os ETFs de commodities oferecem acesso líquido e econômico a uma ampla cesta de commodities –e há inúmeras opções desses ETFs disponíveis no mercado, cada uma oferecendo diferentes vantagens, desvantagens e níveis de risco.

O ETF de commodities Lyxor CRB <CRB.PA> (imagem acima), por exemplo, é um dos ETFs de commodities de base ampla mais antigos e populares do mercado.

E curiosamente –embora as entradas de ETF costumem acompanhar as oscilações no desempenho das commodities—, o nível atual de AUM (Assets Under Management) mostra-se bem mais alto do que em períodos semelhantes no passado.

Os índices de commodities acompanham uma cesta de commodities e são um importante barômetro das tendências nesses mercados. Mas as versões anteriores não ofereciam possibilidade de investimento, pois acompanhavam os preços à vista. Ao longo dos anos, no entanto, os índices de commodities evoluíram e se transformaram numa boa opção para investidores que desejam obter exposição a um amplo espectro de commodities.

Por exemplo, o índice Refinitiv/CC CRB Excess Return <.TRCCRB>, introduzido inicialmente em 1957, acompanha o preço de dezenove índices diferentes de energia, agricultura, metais e pecuária negociados no mercado futuro.

Refinitiv/CC CRB Excess Return Index. Fonte: Refinitiv Eikon

O índice é revisado periodicamente para refletir a evolução do mercado de commodities.

Os futuros de commodities subjacentes são organizados em quatro grupos. Energia é o grupo com o maior peso (39%), seguido por agricultura (34%), metais (20%) e pecuária (7%).

Divisão detalhada do Refinitiv/CC CRB Excess Return Index (por grupos principais e componentes subjacentes)

Para permitir uma maior exposição a grupos específicos de commodities, existem também vários subíndices, incluindo versões não agrícolas e não energéticas.

Desempenho do Refinitiv/CC CRB Excess Return Index e seus componentes subjacentes. Fonte: Refinitiv Eikon

Potencial ESG

Apesar de ser um ponto muitas vezes ignorado, é preciso lembrar que ao incluir na carteira um índice de commodities (e em seus futuros subjacentes), o investidor também estará colaborando com a agenda ESG.

Possuir ações ou títulos de uma companhia que produz ou transforma commodities significa financiar diretamente a produção ou refino dessa commodity. E, como o capital de uma empresa sempre é finito, ele pode estar diretamente ligado à sua pegada de carbono.

Porém, como apenas uma fração dos futuros de commodities é entregue fisicamente no vencimento, e como os futuros não afetam o consumo ou a produção da commodity subjacente, argumenta-se que os futuros de commodities são uma forma de exposição às commodities com impacto ambiental zero.

Saiba mais sobre o Refinitiv /CoreCommodity CRBB® Total Return Index

Megatendências do setor

Os investidores que estão estreando no mercado de commodities devem estar a par de duas megatendências que já começaram a transformar essa atraente, mas complexa classe de ativos.

A primeira delas é um intenso e rápido processo de digitalização que está trazendo transparência a uma indústria que até pouco tempo atrás era particularmente opaca. Essa tendência nivelou o campo de jogo e está desafiando a vantagem competitiva dos grandes players de commodities.

A segunda megatendência (e possivelmente de maior impacto para o setor) é a transição dos combustíveis fósseis para os renováveis. Esse caminho para o net zero está mudando radicalmente o cenário de commodities –e muito além do complexo energético.

 

Ter acesso às melhores pesquisas, análises e notícias, além da capacidade de combinar diferentes fontes de dados, aumentará drasticamente as chances de sucesso dos investidores que desejam diversificar seu portfólio e adicionar commodities à alocação estratégica de ativos

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