Ir para conteúdo

É possível atingirmos net-zero com crescimento econômico?

Alessandro Sanos, CAIA
Alessandro Sanos, CAIA
Global Director, Commodities, Refinitiv

Uma política net-zero requer amplas mudanças comportamentais e investimentos maciços para transformar o sistema industrial global. Portanto, para realmente enfrentarmos esses desafios precisamos de um propósito comum, que começa por deixar de lado a atual narrativa de “desgraça e tristeza” para focar nas oportunidades e recompensas que serão criadas pela descarbonização da economia.


  1. O net zero só será possível se abandonarmos a narrativa pessimista de hoje em dia e passarmos a valorizar as enormes oportunidades que nos esperam em um futuro de baixo carbono.
  2. As empresas que contribuem para a mitigação das mudanças climáticas podem criar milhões de novos empregos e impulsionar a economia. E, mesmo aquelas que atuam em setores onde a redução de emissões é mais difícil podem colher recompensas ao perseguir a descarbonização, já que os fluxos de financiamento e custos de capital mais baixos podem financiar essa transição e estimular o crescimento.
  3. Para desenvolver esse potencial, todos precisam desempenhar seu papel –não apenas os formuladores de políticas públicas, investidores e empresas, mas também produtores de commodities, firmas de trading e, obviamente, cada indivíduo. Afinal, essa é a única maneira de atingir os objetivos de net zero e de proteger a economia global contra os riscos climáticos.

Para mais informações baseadas em dados diretamente no seu inbox, assine o boletim semanal Refinitiv Perspectives

Apesar de vivermos em um mundo em que os acontecimentos são sempre incertos, há algo que, infelizmente, parece estar garantido: a crise climática.

Desde a revolução industrial, há 250 anos, temos despejado enormes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse aumento sem precedentes no volume de CO2 vem causando o aumento inequívoco das temperaturas globais e desencadeando uma série de mudanças climáticas, o que, por sua vez, leva a eventos climáticos extremos e cada vez mais devastadores.

Diante desse cenário, e a cada ano que passa, tornam-se mais complexas as mudanças necessárias para que ainda tenhamos uma chance (razoável) de descarbonizar a economia global e reverter as atuais tendências.

Agora, nos resta um prazo bastante apertado para:

  • Fazer malabarismos com mudanças comportamentais.
  • Fechar as lacunas de investimento necessárias para transformar o sistema industrial do planeta.
  • Gerenciar o inevitável impacto sobre os preços.
  • Estar atentos às mudanças nos equilíbrios geopolíticos e garantir que a transição não agrave a desigualdade ao redor do globo.

Trading de commodities: obtenha insights para ajudá-lo a acessar as informações certas, no formato correto e no melhor momento para atuar no complexo cenário de negociação de commodities

Net zero e crescimento econômico: um paradoxo?

É inegável: estamos enfrentando tempos muito desafiadores. Mas, apesar dessa constatação, acredita-se que o caminho para zerarmos as emissões líquidas de carbono ainda está aberto.

Nas últimas décadas, em uma tentativa de capturar a atenção da sociedade e manter as mudanças climáticas em destaque nas agendas governamentais, a ciência do clima construiu uma narrativa em torno de cenários de “desgraça e tristeza”.

O problema é que, em parte considerável da população global, essa abordagem não surtiu muito efeito –e consequentemente, nem em seus representantes eleitos.

Assim, para sermos bem sucedidos em mudar certos comportamentos, remover ineficiências e fechar a vasta lacuna de investimentos necessários para financiar a descarbonização, precisamos de uma urgente mudança de paradigma. Ou seja, de agora em diante, o tom de ser outro, e o foco, nas imensas oportunidades que surgirão com a transição para uma economia de baixo carbono.

Net zero e crescimento econômico não são duas realidades conflitantes; a tão almejada redução das emissões de CO2 não acarreta necessariamente em contração econômica. Em suma, o chamado “crescimento net zero” é mais do que uma possibilidade, é um percurso óbvio.

A caminho de uma economia de baixo carbono

A estrutura regulatória trazida pelo Acordo de Paris e a orientação derivada de iniciativas que promovem transparência, como a Taskforce on Nature-related Financial Disclosure (TNFD, na sigla em inglês) trouxe maior segurança jurídica. E isso permite que planos ambiciosos priorizem financiamentos e investimentos que apoiem o caminho para uma economia global net zero.

Não há dúvidas de que a transição para uma economia de baixo carbono apresenta oportunidades indiscutíveis para as empresas que contribuem para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas.

Os fluxos de capital estão financiando os avanços tecnológicos que são indispensáveis ​​para que o net zero se torne uma realidade, o que criará milhões de novos empregos e elevará significativamente o crescimento econômico global.

Enquanto isso, o investimento sustentável torna-se cada vez predominante, e o rápido crescimento de títulos e de empréstimos verdes configura uma excelente oportunidade para as empresas reduzirem os custos de capital e financiarem sua transição.

E, obviamente, também há recompensas para as empresas que tentam descarbonizar –mesmo que elas se encontrem em setores mais críticos, como petroquímico e aviação, onde a redução costuma ser mais difícil.

As indústrias siderúrgicas, petroquímica, de alumínio e de cimento, bem como o setor de transporte marítimo e o de aviação, representam um terço das emissões globais de dióxido de carbono e, embora seja mais complicado controlar as emissões nessas áreas, não é impossível; isso poderia ser feito com menos de 0,5% do PIB global.

Oportunidades e ganhos à frente

Embora tenhamos um gigantesco desafio pela frente, o net-zero nos trará boas oportunidades, mas somente se conseguirmos evitar a armadilha da polarização que, até agora, tem caracterizado esse debate e, de forma coletiva, desempenharmos nosso papel.

Para isso, é fundamental que os formuladores de políticas públicas integrem totalmente o risco climático no monitoramento da estabilidade financeira, e que transformem as políticas de adaptação e de mitigação climática em ação. E que os investidores, com suas decisões estratégicas de alocação de ativos, sejam responsáveis por acelerar a transição.

Por fim, produtores de commodities, firmas de trading e empresas deverão adotar metas ambiciosas de sustentabilidade e descarbonização, preparando seus modelos de negócios para um futuro permeado por riscos climáticos. E, claro, os indivíduos devem levar em consideração os fatores climáticos na hora de adotar comportamentos de consumo, além de exigir que todos os outros componentes dessa equação não se desviem de suas responsabilidades.

Definitivamente, o “crescimento net zero” não é um paradoxo; é o combustível para a empolgante revolução econômica que está por vir.

Trading de commodities: obtenha insights para ajudá-lo a acessar as informações certas, no formato correto e no melhor momento para atuar no complexo cenário de negociação de commodities