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Ainda há tempo para combater as mudanças climáticas

Luke Manning
Luke Manning
Head of Sustainability

Fatores como clima extremo, aumento do nível do mar e incêndios florestais na Amazônia têm instigado o debate sobre as alterações climáticas. Em meio a esse cenário, será que realmente vamos ver uma mudança coletiva de comportamento e avançar na luta contra o aquecimento global?


  1. Temos presenciado uma mudança significativa no debate sobre questões de sustentabilidade, o que aumenta as esperanças sobre uma mudança de comportamento para enfrentar a emergência climática.
  2. O clima descontrolado, o alcance das mídias sociais e a capacidade da Internet das Coisas (IOT) de gerar dados criaram um ambiente fértil para a proliferação das mensagens climáticas.
  3. Ainda há tempo de fazer as alterações necessárias para proteger o nosso planeta, destinando a isso as finanças, os recursos e a tecnologia ao nosso alcance.

Houve um aumento perceptível da cobertura jornalística e da conversa cotidiana sobre as questões relacionadas à sustentabilidade. Hoje, mais da metade da população norte-americana afirma se deparar todos os meses com matérias sobre o aquecimento global, índice 13% maior do que o do ano passado.

Enquanto isso, no Reino Unido, 80% dos habitantes dizem estar “muito ou bastante preocupados” com as alterações climáticas, um aumento de 6% em relação a apenas um ano atrás.

Grande parte dessa mudança de consciência se dá devido à manifestação mais óbvia do aquecimento global: o clima cada vez mais extremo que o mundo está testemunhando:

  • O gelo marinho do Ártico caiu para o nível mais baixo já registrado neste ano.
  • Os incêndios florestais se alastram com uma regularidade e ferocidade alarmante nas Américas, o que fez, inclusive, a cidade de São Paulo mergulhar recentemente na escuridão da fumaça expelida pelo fogo na Amazônia.
  • Os oceanos mais quentes estão levando ao aumento do nível do mar, impactando as áreas costeiras.
  • As ondas de calor agora matam mais cidadãos nos EUA do que qualquer outro evento climático; e a França chegou a alcançar 45,9°C neste verão, que foi arrasador em toda a Europa.

Por mais que se tente, é difícil ignorar o fato de que dezoito dos últimos dezenove anos foram os mais quentes já registrados pelo homem. Eventos climáticos extremos, juntamente com as óbvias conseqüências físicas do consumo de plástico em nossas praias e oceanos, tornaram as discussões sobre as mudanças em nosso planeta mais imediatas (e viscerais).

Basta combinar esses alarmes ao rápido alcance global das mídias sociais e à capacidade da IOT para gerar dados de medição de impacto, que temos um terreno fértil para a disseminação das mensagens sobre sustentabilidade.

O momento é agora

Em face a esse panorama, o tom da cobertura na mídia mudou. Ou seja, deixou de alertar para uma questão de longo prazo que polarizava o debate e tornou-se algo emergencial.

Podemos dizer que a guerra contra o aquecimento global é fragilizada, principalmente, por três fatores: o enorme custo envolvido para se obter mudanças significativas; a necessidade de inovação tecnológica para otimizar nossa maneira de viver; e a falta de consenso político e social sobre o que precisa ser feito.

Em outras palavras, estamos falando de dinheiro, meios e mentalidade.

Mas, em um mundo que destina anualmente US$ 1,8 trilhão para gastos militares, perde US$ 1,45 trilhão em fluxos financeiros ilícitos, e desperdiça US$ 160 bilhões em alimentos somente nos EUA, o dinheiro não será problema (se houver vontade de redirecioná-lo para iniciativas sustentáveis). Afinal, estudos internacionais estimam que os ativos globais sob gestão ultrapassarão US$ 100 trilhões até 2020.

Avanços tecnológicos

No que diz respeito à tecnologia, o preço da geração de eletricidade a partir de fontes alternativas de energia, como eólica, solar e hídrica, só faz diminuir. Aliás, alguns custos são iguais, ou mesmo menores, do que as tarifas de geração convencional. Diante desse quadro, não é nenhuma surpresa que a participação de fontes renováveis ​​na geração de eletricidade do Reino Unido tenha aumentado para 33% em 2018.

Além disso, estão sendo desenvolvidas muitas inovações na área de energia renovável. Cientistas da Caltech e Northwestern University vêm testando ferrugem para gerar eletricidade; e pesquisadores da King Abdullah University of Science and Technology, na Arábia Saudita, descobriram uma maneira de purificar a água por meio da energia solar.

Sustentabilidade ou ganhos de curto prazo?

O fato é que já somos capazes de diminuir significativamente a nossa produção de carbono –dinheiro e meios não são os maiores problemas.

O verdadeiro empecilho continua sendo a vontade coletiva de priorizar a sustentabilidade em vez de ganhos de curto prazo, redefinindo o que prosperidade e valor significam para os indivíduos, empresas e estados.

Por isso, acreditamos que as grandes empresas devem assumir um papel decisivo no combate à crise climática. Afinal, a influência que exercem sobre a sociedade exige essa postura.

Os dados da Refinitiv abrangem 7.000 empresas, oferecendo 400 medidas diferentes de sustentabilidade, que variam de emissões de carbono até diversidade da equipe de profissionais e uso de água. Essas informações permitem maior transparência e exigem mais responsabilidade das organizações.

Em busca de um novo estilo de vida

Quanto mais dados científicos sobre mudanças climáticas são divulgados, maior o número de corporações globais que reexaminam suas prioridades. Recentemente nos Estados Unidos, a Business Roundtable redefiniu o que entende como objetivo de uma empresa. Anteriormente, a definição baseava-se apenas em gerar mais lucro para os acionistas, mas agora leva em consideração “todas as partes interessadas” –funcionários, clientes e a sociedade em geral. Com mais organizações exercendo liderança no caminho da sustentabilidade, não há dúvida de que estamos na direção certa.

Mas precisamos de mudanças em larga escala para alterar o estilo de vida ocidental, baseado largamente no consumo, e reduzir as emissões globais de carbono.

Isso quer dizer, entre outras coisas, menos viagens, menos roupas, menos carne vermelha, menos plástico e propriedade compartilhada de ativos raramente usados.

Os EUA, por exemplo, representam menos de 5% da população mundial, porém consomem quase um quarto de seus recursos.

Essa é uma postura que não pode, absolutamente, ser replicada nos países em desenvolvimento, onde, apenas na Ásia, vivem 60% da população mundial. A Refinitiv conta com um grande número de funcionários em países como Índia e Filipinas, e algumas de nossas equipes de sustentabilidade voluntárias mais engajadas encontram-se nessa região. Elas estão atentas aos desafios de suas comunidades e do mundo, e têm respondido com uma variedade de iniciativas sociais e ambientais bastante positivas.

Enfrentando as ameaças climáticas

É importante ressaltar que as ações individuais continuam sendo fundamentais. Afinal, elas dão o exemplo, incentivam outras pessoas a fazer o mesmo, reunem-se para gerar impacto coletivo e enviam fortes sinais sociais e políticos.

No entanto, fazer isso sem uma liderança, que venha de cima para baixo, é como varrer as folhas do jardim em um dia de vento. Precisamos chegar à raiz do problema para realizar alterações sistêmicas. E isso requer o Estado.

A ação do Estado pode assumir várias formas, seja exigindo a divulgação de medidas corporativas de sustentabilidade, implementando impostos de carbono em maior escala ou priorizando os investimentos sustentáveis, para citar apenas alguns exemplos.

O desenvolvimento econômico deve estar entrelaçado ao progresso social e à proteção ambiental e –importantíssimo—, alinhado coletivamente em todo o mundo.

E então?

A partir de tudo o que mencionamos acima, chegamos a uma conclusão: é possível, sim, combater as mudanças climáticas.

Ainda há uma janela de oportunidade para fazermos as correções necessárias em prol de nosso planeta. Temos finanças, recursos e tecnologia disponíveis. Além disso, começamos realmente a acreditar em um mundo sustentável a médio prazo impulsionado por uma economia verde, com baixa pegada de carbono e eficiente em termos de recursos.

Mas, a questão fundamental permanece: temos vontade de fazer as alterações essenciais para chegar lá?

Se o ano de 2019 intensificou o debate sobre a ameaça climática, talvez 2020 traga os novos padrões comportamentais de que precisamos para enfrentar o problema.

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