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Com máquinas mais avançadas, somos mais inteligentes

Debra Walton
Debra Walton
Chief Revenue Officer, Refinitiv

Em uma época caracterizada essencialmente pelas incertezas, há algo sobre o qual todos parecem concordar: a Inteligência Artificial (IA) será uma das tecnologias mais disruptivas da próxima década.


O valor dos negócios globais gerados pelos avanços na área de Inteligência Artificial (IA) alcançou 1,2 trilhão de dólares somente em 2018, segundo a consultoria Gartner. Para se ter uma ideia, isso significa um aumento de 70% em relação a 2017. E acredita-se que esse montante continuará a crescer de forma exponencial nos próximos quatro anos, chegando a 3,9 trilhões de dólares já em 2022.

De acordo com estimativas da PwC, referência mundial em soluções de tecnologia, o avanço da Inteligência Artificial ao redor do globo fará com que o PIB mundial seja 14% maior em 2030. Isso seria o equivalente a um adicional de 15,7 trilhões de dólares – mais do que a riqueza atual gerada pela China e Índia juntas.

 

Diante de previsões de crescimento e lucratividade como essas, a IA representa a melhor oportunidade de negócios de que se tem notícia em uma economia global em constante mudança.

 

 

Embora algumas previsões sobre os possíveis avanços da Inteligência Artificial pareçam otimistas demais (quase irreais), na verdade, o que estamos testemunhando é a evolução dos seres humanos. Isso porque, ao nos tornarmos mais inteligentes, somos acompanhados por máquinas também mais inteligentes.

Uma maneira melhor de entender esse conceito é rebatizá-lo como Inteligência Aumentada (ou Inteligência Ampliada), esquecendo a palavra “artificial”.

 

E em vez de cair na narrativa comum sobre uma nova tecnologia que surgiu para substituir as pessoas em seus empregos, por que não enxergar o seu objetivo final, que é nos ajudar a realizar várias funções de forma mais rápida e eficiente? Só assim o caminho para a inovação estará livre.

 

Os profissionais serão mais produtivos, eficientes e terão maior capacidade para gerar receita empregando ferramentas que utlizam análise de dados, automação e machine learning, por exemlo. Mas nós ainda desempenharemos papeis essenciais nesse processo, principalmente porque dependerá do ser humano entender quais benefícios podem ser alcançados com IA.

É importante que as organizações percebam que a automação não funciona para todos os setores nem para todo e qualquer processo dentre da sua área de atuação. Por isso, para que as instituições determinem onde empregar a Inteligência Artificial de maneira eficaz, elas devem avaliar quais aspectos de determinado processo são mais adequados a ela.

 

É comum que as empresas caiam numa velha armadilha: usar a tecnologia para tentar detectar problemas. Isso geralmente não funciona, pois os especialistas em tecnologia –sejam funcionários internos ou consultores externos— nem sempre compreendem os fluxos de trabalho da organização que estão tentando consertar, muito menos os casos específicos para os quais aquela ferramenta é útil.

 

Esse desafio permeia empresas de todos os setores. E, uma solução (aparentemente) simples estaria em mais diálogo entre especialistas em tecnologia e os gerentes de negócios que entendem seus clientes e os problemas que enfrentam no dia-a-dia. Com uma maior compreensão e colaboração mútua, a IA poderá ser usada como uma ferramenta para resolver problemas reais, e centrada no ser humano desde o início. Mas comunicar-se com as várias partes envolvidas em um processo de trabalho –em geral, com backgrounds variados— não é tarefa simples.

 

Há, contudo, alguns setores que já empregam a Inteligência Artificial de forma exemplar. Empresas da área de saúde são umas das que mais se beneficiam dessa tecnologia, já que a enorme quantidade de dados de pesquisas e de processos de treinamento as tornam candidatas ideais para aderir a IA.

 

Um bom exemplo é na área de oftalmologia, onde os médicos colaboraram estreitamente com profissionais de tecnologia e agências de saúde para detectar doenças oculares causadas pelo diabetes e que, se não forem detectadas precocemente, podem levar à perda da visão. A pesquisa, publicada no Journal of the American Medical Association, destaca como a IA pode ajudar os médicos a melhorar seu desempenho, atuando em problemas do mundo real e com uma abordagem centrada no ser humano.

 

Outro setor que está começando a aplicar a IA para casos específicos é o de serviços financeiros. Apsar de nos últimos anos o principal foco ter sido a automação das operações, aprimorando ferramentas de negociação e melhorando o atendimento ao cliente, agora as instituições financeiras estão demonstrando como a IA pode lidar com questões sociais muito maiores, como crimes financeiros.

 

Hoje em dia, apenas 1% dos crimes financeiros que passam pelo sistema bancário são impedidos. Mas a Inteligência Articial oferece uma ótima oportunidade de reunir a indústria, os governos e os reguladores para considerar uma nova abordagem. Várias empresas do setor –de startups a grandes corporações – têm feito progresso na identificação de fraudes, rastreamento de sanções, e identificação de casos de lavagem de dinheiro e corrupção em geral. Aplicar a IA nesses processos aumenta a sua transparência, precisão e flexibilidade, sem eliminar nem desvalorizar os profissionais responsáveis pelas decisões finais.

 

Independentemente do setor, os mais bem-sucedidos casos de emprego dessa nova tecnologia são aqueles que a enxergam e a utilizam como aliada dos seres humanos, não como substituta. E é preciso uma combinação de conhecimento humano e proficiência técnica para realmente compreender essa condição.

 

Construir soluções tecnológicas que precisam interagir constantemente com o ser humano para que sejam validadas, reguladas e atualizadas não pode ser chamado de algo artificial. Então, vamos superar a velha competição entre homem versus máquina e reconhecer que, juntos, podemos ser seres humanos mais inteligentes com máquinas mais inteligentes.