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Análise – Ações de companhias aéreas brasileiras foram mais afetadas por crise do coronavírus

As companhias aéreas cujas ações foram mais impactadas pelo anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de vetar viagens de europeus para os Estados Unidos nem sequer operam voos entre estas duas regiões.

A Gol (GOL.N) e a rival Azul (AZUL.N)  viram suas ações despencarem mais de 30% na quinta-feira, um recorde para cada uma. No ano até agora, ambos papéis listados em Nova York acumulam desvalorização de mais de 70%.

As ações das 20 maiores companhias aéreas do mundo estão todas no vermelho neste ano, mas as perdas dos papéis das duas empresas brasileiras lideram o movimento.

Pode ser surpreendente à primeira vista, uma vez que ambas são focadas em voos domésticos e apenas a Azul tem voos diretos para os Estados Unidos e Europa. Nenhuma delas têm voos para a Ásia. Em outras palavras, não estão diretamente expostas ao pior da crise que tem afetado o setor no mundo.

Mas analistas afirmam que a queda das ações é vinculada aos problemas econômicos mais amplos do Brasil e a um pânico generalizado sobre papéis com riscos maiores e mais voláteis.

“É possível que você tenha gestores de portfólio com clientes que querem o dinheiro deles agora”, disse Stephen Trent, analista do Citigroup. “Os mercados emergentes são arriscados, e as companhias aéreas são mais arriscadas que outros ativos. A queda não tem uma grande conexão com os fundamentos delas.”

Além disso, o real registra a quarta pior performance até agora entre moedas do mundo, um ponto importante de pressão para companhias aéreas de mercados emergentes que possuem grande parte de seus custos em dólares.

“Toda a vez que o dólar sobe isso afeta (mais de metade) dos nossos custos”, disse Eduardo Sanovicz, presidente da associação brasileira de companhias aéreas (Abear). “Não é uma coisa positiva.” A Abear enviou ao ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, uma pauta de medidas voltadas a “minimizar o impacto econômico sobre a indústria e preservar sua viabilidade”, segundo a entidade. As medidas incluem redução de impostos sobre querosene de aviação, desoneração de folha de pagamento e linha de crédito para capital de giro.

Até agora neste ano, nenhuma outra grande bolsa de valores caiu mais que a do Brasil. Dados da Refinitiv mostram que as ações de Gol e Azul têm recebido um volume de negócios acima da média nos últimos dias.

“Gol e Azul são ações super líquidas”, disse o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, na quinta-feira. “E elas são usadas desta maneira.”

Mas a performance negativa das ações das duas empresas também ressalta que o setor aéreo brasileiro têm enfrentado dificuldades há anos para ser lucrativo, pressionado por uma economia fraca e câmbio volátil.

A Azul publicou na quinta-feira prejuízo de 2,4 bilhões de reais em 2019. A empresa, porém, afirmou que teria registrado lucro não fosse encargos relacionados à venda de aeronaves mais antigas.

Já a Gol acumula perdas de mais de 9 bilhões de reais desde 2008 e enfatizou em uma apresentação a investidores na quarta-feira que tinha pouca exposição a voos intercontinentais.

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Tempos Difíceis

A Azul afirmou na quinta-feira que vai reduzir em até um terço os voos internacionais, mas que não tem registrado problemas na demanda de rotas domésticas. Apesar disso, a empresa implementou um congelamento de contratações e vai oferecer licenças não remuneradas a alguns funcionários.

“Não somos novatos em se tratando de tempos difíceis”, disse David Neeleman, presidente do conselho de administração da Azul (JBLU.O.)

Pelo menos nove companhias aéreas fecharam as portas no Brasil até agora neste século. No ano passado, a Avianca Brasil deixou de operar após um fracasso em processo de reestruturação.

As empresas dominantes no setor no Brasil são relativamente jovens. A Gol foi fundada há 20 anos, e a Azul foi criada em 2008. A Latam Airlines (LTM.SN ) surgiu em 2012 após uma fusão entre a chilena Lan e a brasileira TAM.

Apesar de populares entre investidores de tempos em tempos, todas as três empresas podem enfrentar dificuldades para atraírem investidores de volta após a atual crise, afirmaram analistas do UBS em vários relatórios recentes.

“Negociar com ações de companhias aéreas pode ser perigoso para o seu dinheiro”, escreveram.

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