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Como a perda de biodiversidade eleva os riscos financeiros

Robin Smale
Robin Smale
Director, Vivid Economics

A perda de biodiversidade está entre os maiores riscos enfrentados pelas instituições financeiras. A maioria dos investidores, no entanto, parece não ter consciência disso ou compreender mal os seus impactos. Para chamar a atenção para o problema, um webinar da Future of Sustainable Data Alliance (FoSDA) –nova iniciativa da Refinitiv— destacou as ameaças à biodiversidade e como as ações de combate a elas podem ser integradas aos portfólios de investimento.


  1. Segundo o Global Risks Report, divulgado na edição de 2020 do Fórum Econômico Mundial, a perda de biodiversidade é um dos cinco principais riscos da próxima década. Porém, poucos investidores entendem o seu potencial impacto nas carteiras de investimentos.
  2. Em um recente webinar da FoSDA, especialistas internacionais consideraram as ameaças (atuais e futuras) à biodiversidade e analisaram possíveis respostas do setor financeiro.
  3. Em meio à crise da Covid-19, que lições relacionadas à biodiversidade podem ser aprendidas para o futuro?

Assim como ocorria com a crise climática alguns anos atrás, os riscos ligados à biodiversidade são hoje um passivo pouco compreendido pelos investidores –além de omitido nos balanços da maioria das instituições financeiras.

Atualmente, já é amplamente aceito que o aquecimento global tem um importante impacto sobre o desempenho de investimentos em alguns setores e empresas, e representa um risco sistêmico para a estabilidade econômica. Mesmo assim, são poucas as organizações que compreendem ou gerenciam as ameaças à biodiversidade.

Bastante complexos para serem medidos e geograficamente diferenciados, os perigos para a natureza e para a biodiversidade são, em geral, mal avaliados. Isso faz com que grandes alocações de capital sejam realizadas de forma ineficiente, perpetuando a exposição do setor financeiro.

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Uma crise que já se arrasta há um século

A natureza vem passando por uma crise, comparável a uma pandemia, há mais de um século. A atividade humana no planeta acelerou a taxa de extinção de espécies vegetais e animais em mais de 100 vezes, e abriu caminho para uma crescente crise climática. Isso ameaça cerca de 25% dos grupos de plantas e animais avaliados, com um milhão de espécies enfrentando risco de extinção –muitos deles em poucas décadas.

O meio ambiente vem sendo transformado em uma escala impressionante: 75% da superfície terrestre já foi alterada de forma significativa; 66% dos oceanos estão sofrendo deterioração cumulativa; e mais de 85% das áreas úmidas do planeta foram perdidas.

Figura 1: Extinção de espécies desde 1500

Fonte: IPBES (2019): Resumo para os formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

Relatório divulgado em Davos

De acordo com o Global Risks Report (GRR), quase três quartos da capitalização de mercado do FTSE 100 estão associados a processos de produção altamente dependentes da natureza. O relatório, divulgado em janeiro passado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, classifica a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema como um dos cinco principais riscos em termos de probabilidade e impacto nos próximos 10 anos.

Ao contrário do que se costuma imaginar, os impactos não são apenas sobre a agricultura e os sistemas alimentares. Setores de toda a economia estão expostos a riscos relacionados à natureza, principalmente por meio de suas cadeias de suprimentos.

Embora os prejuizos para as indústrias primárias, que dependem da extração de recursos naturais, sejam claros, as indústrias secundárias e terciárias também são afetadas, mas de formas mais complexa.

Se usarmos seis setores como exemplo –produtos químicos e materiais; aviação, viagens e turismo; imobiliário; mineração e metais; transporte e cadeia de suprimentos; varejo, bens de consumo e estilo de vida—, mais de 50% do valor adicionado bruto (VAB) de suas cadeias de abastecimento impactam ou são dependentes da natureza.

Maior incidência de pandemias

Além disso, a própria Covid-19 é um exemplo das crises sistêmicas relacionadas à natureza. Um crescente corpo de evidências sugere que a destruição do meio ambiente está aumentando a incidência de pandemias associadas a doenças zoonóticas.

Com os danos econômicos da pandemia já avaliados como maiores do que os da crise financeira global de 2008, mesmo pequenas mudanças para diminuir potenciais riscos de saúde vão resultar em enormes prejuizos para o sistema financeiro.

Gerenciamento de riscos

Diante desse panorama, espera-se que as políticas globais para a conservação da biodiversidade tornem-se mais rígidas, com os países se responsabilizando pelo cumprimento de metas e adotando incentivos para que as empresas realizem essa transição.

O resultado da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, programada para o próximo ano, será fundamental para definir esse movimento.

Enquanto isso, jurisdições mais engajadas em preservação ambiental, como a União Europeia, já estão avançando na agenda da biodiversidade. À medida que os governos em todo o mundo integram objetivos nacionais às suas políticas domésticas, ativos que são estreitamente relacionados ao meio ambiente podem ficar encalhados, próximos da insolvência.

Em um futuro próximo, é provável que a comunidade financeira terá a obrigação de entender e gerenciar esses impactos e riscos, com a sua divulgação, inclusive, se tornando uma norma.

As leis e os regulamentos que regem os passivos ambientais estão em constante evolução. E, como os dados e as novas tecnologias hoje possibilitam uma maior transparência, governos e organizações terão mais condições de reforçar essas reivindicações.

A recém constituída Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (Taskforce for Nature-related Finance Disclosures, ou TNFD) estabelecerá diretrizes específicas para o setor financeiro, pressionando as instituições a incorporar riscos relacionados à natureza nos seus processos internos de gerenciamento.

Aquelas organizações que agirem de forma decisiva agora podem não apenas reduzir os custos de compliance no futuro, mas também aproveitar a demanda de novos investidores por resiliência ambiental.

Assista: Refinitiv Perspectives Live – ESG Investment, a cure all for Asset Management?

Riscos financeiros e biodiversidade

Em janeiro de 2020, em Davos, na Suíça, a Refinitiv e o Fórum Econômico Mundial lideraram a formação de uma nova aliança entre diversos membros: a Future of Sustainable Data Alliance (FoSDA).

Esse recém-formado corpo colaborativo de influenciadores globais tem como foco a crescente necessidade dos investidores de mirar em atividades econômicas sustentáveis. A nova aliança também visa forncecer informações precisas e aumentar a captação e alocação de capital na escala necessária para lidar com os desafios sociais e ambientais ao redor do globo.

No webinar promovido pela FoSDA, intitulado Biodiversity Loss: Why your Portfolio is Already at Risk, foram abordados os principais riscos financeiros associados à perda da biodiversidade. Com a participação de especialistas da comunidade financeira internacional, as discussões giraram em torno do (i) o estado atual da biodiversidade; (ii) canais de risco relacionado à natureza; (iii) a evolução do cenário político; e (iv) as respostas da indústria.

O webinar também serviu para lançar um grupo de trabalho dos membros da FoSDA que visa antecipar desafios futuros.