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Davos foi apenas o começo. A guerra contra a crise climática se inicia agora

David Craig
David Craig
CEO, Refinitiv

O novo tom adotado em Davos pela comunidade empresarial global gerou esperanças generalizadas de que ainda é possível evitar uma catástrofe climática total. Mas a luta contra a crise ambiental precisa começar agora – e não será fácil.


 A edição deste ano do Fórum Econômico Mundial foi realmente diferente. Tanto em painéis de discussão quanto em apresentações individuais de importantes CEOs, pude ver como as vozes que até recentemente defendiam o status quo estavam se rendendo à realidade. O número de líderes comprometidos com ações reais (e mensuráveis) de combate à crise climática ​​foi sem precedentes. Posso dizer que 2020 foi um divisor de águas em Davos.

Bem, essa foi a boa notícia. Agora, à medida que os CEOs e os formuladores de políticas públicas retornam aos seus países e se deparam com as habituais demandas do Business As Usual, é que a parte difícil realmente começa: colocar esses compromissos em ação, e com o mundo inteiro nos observando.

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Escalando os Alpes Suíços

Neste momento, os líderes globais precisam ser honestos sobre o que ainda não foi alcançado em Davos, para calcular exatamente o que deve ser feito na curta janela de tempo que nos resta.

Isso porque, apesar de o investimento sustentável representar claramente o zeitgeist, trata-se ainda de uma fração do montante total.

De acordo com dados da Refinitiv Lipper, dos US$54 trilhões aplicados em fundos globais, menos de US$2 trilhões estão em investimentos éticos (que levam em conta questões de ESG). E, a situação piora ainda mais se compararmos esse valor com os US6,9 trilhões anuais necessários, segundo a OCDE, para cumprir as metas de clima e desenvolvimento.

Às vezes, olho para o desafio climático como um alpinista olha para a face norte do Eiger, montanha com 3.970 metros de altitude nos Alpes Suíços, e  penso que apenas colocamos os grampos para a escalada. Como se não bastasse a intensa inclinação da subida, ainda precisamos chegar ao cume em tempo recorde. Como escreveu Stéphane Monier, CIO da Lombard Odier, em uma nota recente, as atuais taxas de emissão de gases nos deixam com apenas mais sete anos de business as usual –ou um ciclo de negócios— antes que mudanças irreversíveis nos afetem.

A oportunidade de um trilhão de dólares

Agora vou tentar injetar um pouco de esperança. Mesmo se deixarmos de lado nossa obrigação moral de proteger o planeta do qual todos dependemos, o argumento financeiro, que demonstra por que as empresas devem agir, é imbatível.

Como o Bank of America já alertou, pense nas quedas de rendimento corporativo se mais de 3% do PIB global for perdido anualmente até 2030 por causa de eventos climáticos. Os riscos relacionados a questões de ESG já estão tirando bilhões de dólares das avaliações das empresas e, como a Refinitiv ressaltou em Davos, acreditamos que uma ‘correção de carbono’ de US$4 trilhões nos mercados financeiros devem gerar ainda mais perdas.

Em vez disso, imagine as oportunidades de investimento possíveis ao financiar a mudança do planeta para um futuro sustentável. O forum de Davos começou a esboçar uma resposta para essa questão, mas precisaremos pensar de forma criativa e ir além, deixando de depender apenas dos grandes bancos de investimento –muitos dos quais já estão avançando nessa trajetória.

Os bancos de varejo poderiam ter um papel importante, oferecendo aos detentores de depósitos uma nova gama de investimentos financeiros verdes? Imagino que já haja uma demanda reprimida entre os cidadãos interessados em fazer sua parte.

A comunidade financeira também precisará fazer perguntas mais profundas sobre como e onde todo esse dinheiro é alocado. Uma avaliação simples –sobre as economias mais populosas, que crescem mais rápido e com maior probabilidade de serem afetadas pelas mudanças climáticas – indicará que uma grande fatia desses investimentos precisará ser feita em mercados emergentes.

Então como os investidores globais adversos a risco conseguirão ajustar a fonte dessa demanda aos seus próprios critérios de investimento? O fluxo de investimento em alguns mercados emergentes é ainda mais complicado devido a preocupações com questões sociais e de governança. Por isso, a comunidade financeira precisa abordar esses temas com franqueza e espírito de parceria.

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Tudo depende dos dados

Isso me leva à peça da Refinitiv que compõe o quebra-cabeças: os dados necessários para sustentar essa incrível missão. Ou seja, sem informações precisas, padronizadas e verificáveis, não podemos tornar os mercados financeiros sustentáveis.

É por isso que trabalhamos há mais de uma década para criar o conjunto de dados mais abrangente no espaço da sustentabilidade, que engloba desde financiamento de títulos verdes e preços de créditos de carbono até classificações de fundos ligados a ESG e análises de risco da cadeia de suprimentos.

Há um ano, nosso Sustainable Leadership Monitor vem classificando os retardatários e os líderes entre empresas que representam 70% do valor do mercado global, e estamos fazendo um grande progresso em estendê-lo a organizações públicas e privadas.

Mas, se não tivermos uma referência comum de métricas e de divulgações com as quais todos concordamos, os investidores continuarão resistentes. Pensando nisso, nos juntamos a parceiros no Future of Sustainable Data Alliance, além de estarmos vinculados ao International Business Council e às quatro maiores empresas de contabilidade do mundo –tudo para testar e verificar essa nova estrutura.

A nossa jornada para combater a crise climática é assustadora, e temos muito pouco tempo para realizá-la. No entanto, estou animado com a determinação que presenciei em Davos e com a mentalidade de que construir uma economia sustentável é, na verdade, uma oportunidade. Começamos finalmente a nossa longa subida rumo ao topo. Agora devemos perseverar.

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