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Como se não bastasse a pandemia, enfrentamos também uma “infodemia” de coronavírus

Richard Goldman
Richard Goldman
Head of Market Development, Quant and Feeds, Asia

“Contágio pelo coronavírus”. “Companhias aéreas cancelam voos.” “A crise global se aproxima.” “Cadeias de suprimentos ameaçadas.” Estas são apenas algumas das manchetes veiculadas por jornais, sites de notícias e canais de TV ao redor do globo em meio ao surto de coronavírus.

Essa nova cepa da doença, chamada COVID-19, causou estragos na China e se espalhou para dezenas de outros países, desencadeando uma série de medidas de emergência, como fechamento de escritórios, escolas e fronteiras, restrições de viagens e zonas de quarentena que englobam cidades e estados inteiros. [1]

Os transtornos e a ansiedade que se seguiram prejudicaram o sentimento dos investidores e levaram mercados de ações dos EUA [2], da Europa [3] e da Austrália [4], entre outros, a encerrar o mês de fevereiro com seu pior desempenho semanal desde a crise financeira de 2008.

Podemos dizer que essa é uma reação racional e proporcional aos fatos em questão? Ou os investidores estão sendo influenciados por seus temores, agravados pelos relatos da mídia sobre o vírus? E de que maneira essa gangorra emocional e o constante fluxo de informações influenciam os movimentos do mercado?

Para abordar essas questões e examinar as tendências atuais sobre o assunto, a Refinitiv organizou um webinar intitulado “Tracking Fear Cycles in Markets – Putting the Coronavirus Infodemic in Context.”. Esse é um tema fundamental para investidores de todo o mundo que procuram entender o impacto da pandemia nos mercados, conforme demonstrado por uma pesquisa de audiência durante o webinar.

A apresentação foi conduzida pelo CEO e fundador da MarketPsych, dr. Richard Peterson, cuja empresa forncece dados ​​derivados de análises em tempo real de declarações qualitativas nas notícias e nas mídias sociais. Esse é um serviço crucial no mundo dos investimentos de hoje, pois a COVID-19 é “a primeira epidemia da era da mídia social”, como observou durante o webinar Richard Goldman, diretor de desenvolvimento de mercado da Quant e Feeds da Refinitiv.

Alertas por telefone celular, tweets, postagens no Facebook e lives em blogs são apenas algumas das ferramentas à nossa disposição para disseminar e compartilhar informações.

E, como as pessoas tendem a acompanhar as notícias mais de perto em tempos de crise, essa abundância de dados geralmente culmina em uma “infodemia”, que pode alterar os padrões de comportamento, inclusive nos pregões.

De fato, uma pesquisa realizada pela MarketPsych mostra que quantificar o vínculo entre a cobertura da mídia e sua influência na percepção do investidor pode ajudar a prever os movimentos dos preços das ações e fornecer sinais de compra ou de venda a traders e gerentes de patrimônio.

“O sentimento do investidor é um fator importante para a previsão de movimentos de preço e gerenciamento de risco”, observou Richard Goldman, acrescentando que os avanços na tecnologia, como o Machine Learning, estão fornecendo “um nível de granularidade que não era possível com dados tradicionais”.

Fator psicológico

Para o dr. Richard Peterson, os insights psicológicos são essenciais para entender os ciclos de mercado e tomar decisões de investimento rentáveis. Como ele explica, o maior grau de estresse e de incerteza, observados, por exemplo, durante surtos epidêmicos, fazem com que as pessoas busquem informações adicionais, pois estamos condicionados a identificar novas ameaças e ter cautela até nos sentirmos seguros.

“Existe a noção racional da epidemia, de como ela provavelmente se espalhará e de seu potencial impacto econômico, mas o que também afeta os mercados é o psicológico.”

Richard Peterson
CEO e fundador da MarketPsych

E se a cobertura da mídia sobre um evento for percebida como negativa ou alarmista, pode exacerbar a sensação de medo e pânico. “O tom dos noticiários também contribui para preconceitos coletivos. Não costumamos reagir de imediato a essas informações, mas depois, quando esses elementos começam a provocar certos temores em nossos cérebros, ficamos em pânico. E, mesmo que seja irracional, esse sentimento muda o comportamento econômico”, observa Peterson. “Portanto, analisar visualmente esse medo nos ajuda a entender como tudo isso deve progredir.”

Com o objetivo de possibilitar essas visualizações, os MarketPsych Indices (RMI) da Refinitiv contam com software de Processamento de Linguagem Natural (PLN) patenteado para vasculhar centenas de fontes de notícias, blogs e sites de mídia social em busca de informações e sentimentos sobre uma variedade de assuntos –de empresas ao redor do globo a um vasto pacote de moedas— para criar índices agregados.

Paralelos com epidemias passadas

O webinar demonstrou como os investidores podem aplicar os MarketPsych Indices para avaliar o desempenho de ativos durante epidemias anteriores, fazer comparações com o atual surto de Covid-19 e calcular qual será a profundidade de queda de algumas ações para estabelecer a hora certa de compra. Essa abordagem ajuda os investidores a se beneficiar da recuperação que normalmente ocorre quando o vírus (e, sobretudo, o medo que o cerca) se retrai.

Tome como exemplo o impacto da epidemia de SARS, em 2003, sobre o valor das ações da Cathay Pacific. O crescente volume e frequência das referências da mídia à doença em Hong Kong, representadas pelo Human Infectious Diseases (HK) RMI, correspondiam aos indicadores divergentes de sentimento e medo da cidade. Isso prenunciou a liquidação da Cathay Pacific em março e abril daquele ano.

Quando a média de oscilações de medo e de sentimento de Hong Kong começaram a se realinhar, apesar da continuidade da cobertura sobre o surto de SARS na mídia, a trajetória da RMI serviu como um sinal para os investidores de que as ações da companhia tinham atingido seu ponto mais baixo e de que havia uma recuperação à vista.

O MarketPsych também encontrou padrões semelhantes ao estudar a correlação entre os movimentos de preços das principais ações das companhias aéreas e a cobertura da mídia sobre a gripe suína de 2009 e os surtos de Ebola em 2014.

Consequentemente, essa mesma lente pode ser usada para visualizar os mercados financeiros em meio ao surto de COVID-19, oferecendo aos investidores insights que os ajudem a antecipar movimentos de preços e ajustar suas carteiras para isso. “Como regra geral, é melhor não tomar uma decisão de compra até que o sentimento da mídia comece a entrar em terreno positivo e o medo passe a declinar”, afirma Richard Peterson.

É claro que contextos econômicos e políticos mais amplos devem ser levados em conta juntamente com esse tipo de modelagem, e os investidores precisam considerar o impacto da censura da mídia por parte de alguns governos, que tendem a manipular a divulgação de fatos e, por sua vez, a conscientização pública.

No entanto, o velho ditado de que as palavras têm poder certamente soa verdadeiro. As informações, e o tom com que são transmitidas, afetam os participantes do mercado. Portanto, é vital envolver ferramentas inovadoras que possam ajudar a analisar e visualizar o impacto dos textos subjetivos no comportamento humano, a fim de desenvolver uma estratégia de investimento bem-sucedida. “Assim como todos têm dados de preços e dados econômicos, a longo prazo, eles terão dados baseados no fluxo de informações, porque são elas o que impulsionam fundamentalmente os mercados”, conclui Peterson.

[1] https://br.reuters.com/article/idBRKBN2180T0-OBRTP ; https://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN21B2G2-OBRWD

[2] https://www.reuters.com/article/us-global-markets/wall-street-bounce-too-little-too-late-as-world-stocks-post-shock-weekly-decline-idUSKCN20M001

[3] https://www.reuters.com/article/us-europe-stocks/european-stocks-shed-1-5-trillion-as-virus-fears-spur-week-long-selling-frenzy-idUSKCN20M137

[4] https://www.reuters.com/article/australia-stocks-close/australian-shares-post-worst-weekly-drop-since-2008-financial-crisis-nz-falls-idUSL3N2AS2AS

Ouça agora:

A gravação do nosso webinar com o Dr. Richard Peterson, CEO da MarketPysch, e Richard Goldman, Market Development Director, Quant and Feeds, da Refinitiv, que apresentou as pesquisas e as idéias sobre a pandemia atual, analisando o impacto em diferentes setores da APAC.

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