Ir para conteúdo

Voz do Mercado: Ouro sobe impulsionado pelo Fed

Como esperado, o Fed reverteu, pela primeira vez em 10 anos, o curso de sua política monetária. Na reunião do final de julho, o banco central norte-americano reduziu as taxas de juros em 0,25%, para 2-2,25%. O declínio foi implementado para combater os efeitos da guerra comercial com a China, a baixa inflação e a fraqueza econômica global, mas afetou também o preço do ouro, que continua em sua trajetória ascendente.


  1. Após a persistente pressão de Trump, o Federal Reserve finalmente cedeu e, em sua reunião de 31 de julho reduziu a taxa de referência dos juros em 0,25%, para 2-2,25%.
  2. Taxas menores provavelmente vão estimular a queda do dólar e achatar o rendimento dos títulos, o que, por sua vez, leva a uma alta dos preços do ouro.
  1. O metal conta com muitos fatores a seu favor no momento e, portanto, não seria nenhuma surpresa se víssemos a sua cotação atingir 1.550 dólares por onça-troy ainda neste ano.

Depois da pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, para que o Fed baixasse as taxas de juros, o banco central norte-americano enfim cedeu. Durante a mais recente reunião do FOMC, em 31 de julho, a taxa de referência dos juros no país foram reduzidas em 0,25%, para 2-2,25%. Os esforços de normalização monetária que vinham sendo feitos pela instituição, como aliviar parte de seu balanço –inchado por títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas—, também serão interrompidos.

Política do Banco Central dos EUA

Trump certamente apreciou o movimento do Federal Reserve, mas nem por isso deixou as cobranças de lado. Ele já expressou, em seus comentários, um certo desapontamento pelo banco central não ter intenção de apoiar um ciclo de redução de juros prolongado. Suas razões são claras: após o anúncio de um aumento adicional de 10% nas tarifas sobre 300 bilhões de dólares em mercadorias da China, o mercado interno dos EUA deverá enfrentar dificuldades para absorver os custos extras. Em meio a esse cenário, uma flexibilização adicional da política monetária seria mais do que bem-vinda.

O Fed já declarou que está consciente dos possíveis riscos à frente e que está preparado para agir com as ferramentas necessárias para sustentar o seu longo período de expansão dos juros. Isso porque as políticas implementadas pela atual administração federal em relação à guerra comercial com a China estão tendo um impacto significativo no progresso econômico do país. A atividade manufatureira dos EUA desacelerou para o menor patamar em 10 anos no início de julho, com volumes de produção e de compras em queda, refreando o desempenho da economia e ameaçando o movimento expansionista das taxas de juros mais longo da história.

Ainda não possui o Eikon? Solicite uma avaliação gratuita ainda hoje e descubra novas oportunidades com a abrangência de dados e conteúdo que o serviço oferece

Mas e o preço do ouro?

A redefinição da política monetária, de um período prolongado de contração para um de longa expansão, teve importantes implicações em várias classes de ativos, como ações, títulos e metais preciosos, o que chegou a ser chamado de “the bubble of everything” (a bolha de tudo). Mas essa bolha parece ter chegado ao fim. Depois do anúncio de corte de juros pelo Fed, os mercados acionários, como o S&P 500, passaram por uma correção e começaram a operar em queda. O ouro, no entanto, só se beneficiou.

S&P, Títulos de 10 anos, dólar e ouro

Podemos dizer que a falta de versatilidade do ouro no que diz respeito ao seu uso final é compensada pela complexa relação que ele mantém com diversas classes de ativos, como títulos, dólar norte-americano e posições especulativas na COMEX. Taxas de juros mais baixas nos EUA provavelmente causarão uma desvalorização do dólar e reduzirão os rendimentos dos títulos. Isso, por sua vez, devido ao forte relacionamento negativo que mantém com o ouro, até agora teve um efeito positivo sobre o metal.

Basicamente percepção

Há diversos argumentos que apontam uma tendência de alta na cotação do ouro, mas, no final, é uma questão de percepção. Como aponta a nossa recente publicação GFMS Gold Survey H1 Update 2019, o sentimento é geralmente determinado não tanto no mercado físico, mas no COMEX, que costuma alavancar posições em dinheiro administradas compartilhando fortes correlações (0,9) com o ouro.

Posições em dinheiro administradas por relação com ouro na COMEX

As posições líquidas de dinheiro administradas aumentaram no primeiro semestre de 2019, adicionando posições longas (brutas) e cortando as curtas. Outras indicações sobre a trajetória do preço da commodity baseadas em posições especulativas são claras. Seguindo o mercado físico no primeiro semestre de 2019, é muito provável que os especuladores tirem alguns lucros de cima da mesa e encerrem posições longas para transferir para as curtas. Isso provavelmente reduzirá um pouco a cotação do ouro nesse meio tempo, mas em seguida ela deverá continuar sua trajetória ascendente.

Os vários argumentos que defendem a tendência de valorização do ouro permanecem sólidos. Em primeiro lugar, com cada vez mais liquidez no sistema, a commodity faz jus a preços mais altos. Além disso, varejistas e investidores também podem desejar mantê-la para diversificar o portfólio ou mesmo como um tipo de hedge contra um possível descontrole na inflação. E ainda, muitos bancos centrais, particularmente no Oriente e no Extremo Oriente, têm sido compradores frequentes do metal.

Juntamente aos motivos citados acima, a cotação do ouro deverá continuar se beneficiando da reversão de curso da política monetária do Fed. Portanto, não nos surpreenderíamos ao ver a onça-troy do metal atingir 1.550 dólares ainda este ano.

Ainda não possui o Eikon? Solicite uma avaliação gratuita ainda hoje e descubra novas oportunidades com a abrangência de dados e conteúdo que o serviço oferece