Ir para conteúdo

Os movimentos do mercado de petróleo em 2019

Carl Larry
Carl Larry
Performance Director, Commodities

 

Após o recente ataque às instalações de processamento de petróleo saudita, em 14 de setembro, o mercado da commodity enfrentou, em um único dia, a maior oscilação no preço do barril desde a época da Guerra do Golfo. Os ataques à Arábia Saudita têm aumentado em 2019 e, além de estarem causando um choque no suprimento global de petróleo, já afetam outras classes de ativos.


  1. Nos últimos anos, houve fortes reações no mercado global da commodity diante de perdas de capacidade produtiva, como a que ocorreu há poucos dias Arábia Saudita. Mas o crescimento da produção nos EUA reduziu o risco de bruscas elevações no preço do barril e fez com que o país se tornasse decisivo para o equilíbrio desse mercado.
  2. Diante de acirradas negociações comerciais entre países como China e EUA, e dos possíveis impactos do Brexit, os choques no preço do petróleo têm levado à volatilidade cambial e preocupam as principais economias.
  3. Anteriormente, conforme as economias globais entravam e saiam de movimentos recessivos, era a demanda que ditava a cotação do petróleo. Agora, no entanto, os estoques da commodity assumiram esse papel.

Durante os últimos dez anos observamos uma grande mudança no cenário da produção mundial de petróleo. Desde 2012, com a explosão do uso do fracking (fraturamento hidráulico) para a exploração de gás e óleo nos EUA, a produção norte-americana de petróleo saltou de 5 milhões de barris diários para 12 milhões.

Confira no gráfico abaixo o crescimento da produção de petróleo nos EUA

 

Paralelamente ao aumento da produtividade por meio dessa técnica de perfuração não convencional – em que se injeta uma mistura de água de alta pressão na rocha para liberar o combustível em seu interior—, as petrolíferas norte-americanas viram o “big data” como uma forma de aprimorar ainda mais a eficiência. Tecnologias de última geração começaram a ser empregadas não só para auxiliar nos processos de perfuração, mas também para o escoamento da commodity pelos oleodutos e para exportá-la a outros países.

Dessa forma, desde 2015 os EUA têm ajudado a equilibrar o mercado global de petróleo em momentos de cortes de produção pelos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Hoje, o país já envia mais de 3 milhões de barris diários de petróleo bruto para o resto do mundo. Se forem acrescentados os produtos refinados, esse número sobe para 8 milhões.

Veja no gráfico abaixo o aumento das exportações de petróleo dos EUA

Os EUA vêm se destacando entre os principais exportadores mundiais de petróleo principalmente por:

  • Ter um dos tipos mais desejados de petróleo bruto (leve e doce), adequado aos vários processos de refino.
  • Apresentar um dos transportes mais eficientes e seguros do mundo. As cargas provenientes dos EUA contam com altíssimas taxas de entrega e de segurança.

O futuro da energia e do comércio

Após recentes (e incessantes) debates em torno das negociações comerciais entre América do Norte, União Européia e China, parece desnecessário lembar que o essencial é atingir um comércio justo e, sobretudo, seguro.

 

Confira abaixo as importações líquidas de petróleo pela China

 

Hoje em dia, empresas, agências regulatórias e governos, valorizam o fato de as mercadorias transportadas ao redor do globo serem de qualidade, de origem comprovadas –e, claro, entregues com segurança.

Essas condições devem ser ressaltadas especialmente após os problemas com as instalações de petróleo saudita e os perigos ao redor do Estreito de Ormuz. Isso porque, durante épocas de conflitos, os riscos para as exportações e importações crescem de forma exponencial.

Efeitos econômicos

Após a crise de 2015, a cotação do petróleo vinha oscilando entre os 50 e 70 dólares por barril. De 2016 até agora, o mundo conseguiu superar os choques causados pelo fantasma da falta de estoque e de cortes na produção.

Há poucos dias, no entanto, quando os ataques na Arábia Saudita indicaram que a oferta poderia despencar, os mercados financeiros internacionais reagiram rapidamente. As bolsas de valores ao redor do planeta deixaram se levar pelo medo de efeitos desastrosos para uma economia global que não está preparada para lidar com os preços elevados do combustível. Mas a rápida percepção de que houve uma certa histeria e a indicação de pronta recuperação dos estoques fez com que os principais mercados logo se recuperassem.

Certamente, a volatilidade é algo que todos conhecem bem. Afinal, no passado, já presenciamos inúmeros movimentos como esse. Entretanto, estamos sentindo uma renovada preocupação com os estoques e capacidade de fornecimento de petróleo que começam a deixar os mercados financeiros atentos. Enquanto em outras classes de ativos a atenção dos traders recai principalmente sobre fatores como taxas de juros e flutuações cambiais, no mercado de petróleo o foco está sobretudo no monitoramento das negociações.

Otimize suas análises e identifique oportunidades de crescimento nos mercados de energia, gás, carvão, carbono e petróleo com o Eikon. Clique aqui para saber mais

 

Acompanhando as mudanças

Em uma época em que o panorama econômico pode ser alterado radicalmente de uma hora para outra, muitos traders tiveram “a sorte” de ficar cientes dos eventos na Arábia Saudita no momento em que ocorriam.

Enquanto a Reuters News cobria tudo em tempo real, as equipes de pesquisa da Refinitiv Oil trabalhavam ao redor do mundo para estabelecer possíveis cenários a partir dos ataques e de suas consequências para o abastecimento global da commodity.

Como vimos há algumas semanas durante os ataques com drones no Estreito de Ormuz, o Interactive Map da Refinitiv foi de grande ajuda para que os usuários conseguissem rastrear navios na área. São informações extremamente relevantes, por exemplo, para os navios-tanque que estão carregando, não apenas na Arábia Saudita, mas também em suas reservas estratégicas.

A Refinitiv também trabalha nos bastidores, oferecendo aos clientes soluções para a área de risco. Do rastreamento dos navios até a exposição de seus proprietários, os processos de due diligence representam uma parte importante da nova estrutura econômica mundial.

Quanto mais dados, mais soluções

Apesar de atuarmos no setor de commodities há quinze anos, e em renda fixa há seis, podemos admitir que não existem respostas fáceis, apenas incógnitas.

O mercado de petróleo sempre foi governado por movimentos inesperados. De furacões a guerras e (atualmente) ataques de drones, nunca sabemos de onde virá a próxima onda que desestabilizará os preços.

E, pelo lado positivo, temos visto o progresso na área de “Internet das Coisas” (IOT) e de “Big Data”, que em poucos anos conseguiu revolucionar a indústria do petróleo e do gás.

A chave para o sucesso nesse setor, assim como no financeiro, é estar sempre mais bem informado do que a concorrência.

Clique aqui para ter acesso a mais pesquisas e percepções globais da equipe da Refinitiv Oil and Research sobre o mercado de petróleo